quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Metrô lotado

Metrô lotado!
Era esse o seu pensamento enquanto fechava as portas e verificava se as janelas estavam igualmente fechadas.
Metrô lotado!
Pegou a bolsa, as chaves, e o caderno da faculdade.
Metrô lotado!
Enquanto caminhava em direção a estação via as pessoas passarem como se não se notassem, como se estivessem sozinhas naquela imensidão da cidade.
Metrô lotado!
Comprou o bilhete e esperou atentamente a abertura da porta.
Metrô lotado!
Sim, estava muito lotado, não tinha lugar para sentar-se. Em pé, segurando o caderno, sem poder movimentar-se adequadamente, esperava pela estação em que desceria. Foi então que sentiu apertarem sua bunda. Tentou olhar para trás, não conseguiu identificar quem seria.
Novamente, sentiu quando foi apalpada. Olhou novamente, mas de que adiantaria? O metrô estava lotado como previra. Não tinha muito para onde ir e se livrar do assedio. O cara chegou mais perto, sorriu para ela. Um sorriso nojento, um sorrido malvado. Apalpou-a novamente e ela não sabia o que fazer.
As pessoas pareciam não ver o que estava acontecendo. As pessoas não pareciam ligar para o que acontecia. Ela não tinha para onde ir. Olhou para os lados, enquanto sentia que algo mais esfregava-se a sua calça, ela pensava em gritar. Pensava em correr dali.
Mas o metrô estava lotado!
Lotado de pessoas que fingiam não ver o que estava acontecendo. Lotado de pessoas que não se preocupavam, não se importavam. Lotado de pessoas indiferentes, pessoas distantes, olhares e pensamentos além daquele metrô.
Chegou à estação. As pessoas rapidamente começavam a sair. Esvaíam-se junto com a sua dignidade. Saiu da estação e começou a descer a rua. Mas quanto mais descia, mais parecia menos. Quanto mais descia não podia esquecer o assedio, a violência.  E quanto mais andava, mais regredia enfim. Suspirou e pensou para si:
Metrô lotado, é sempre assim...

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