Metrô lotado!
Era esse o seu pensamento
enquanto fechava as portas e verificava se as janelas estavam igualmente
fechadas.
Metrô lotado!
Pegou a bolsa, as chaves, e
o caderno da faculdade.
Metrô lotado!
Enquanto caminhava em direção a
estação via as pessoas passarem como se não se notassem, como se estivessem
sozinhas naquela imensidão da cidade.
Metrô lotado!
Comprou o bilhete e esperou
atentamente a abertura da porta.
Metrô lotado!
Sim, estava muito lotado,
não tinha lugar para sentar-se. Em pé, segurando o caderno, sem poder
movimentar-se adequadamente, esperava pela estação em que desceria. Foi então
que sentiu apertarem sua bunda. Tentou olhar para trás, não conseguiu
identificar quem seria.
Novamente, sentiu quando foi
apalpada. Olhou novamente, mas de que adiantaria? O metrô estava lotado como
previra. Não tinha muito para onde ir e se livrar do assedio. O cara chegou
mais perto, sorriu para ela. Um sorriso nojento, um sorrido malvado. Apalpou-a
novamente e ela não sabia o que fazer.
As pessoas pareciam não ver
o que estava acontecendo. As pessoas não pareciam ligar para o que acontecia.
Ela não tinha para onde ir. Olhou para os lados, enquanto sentia que algo mais
esfregava-se a sua calça, ela pensava em gritar. Pensava em correr dali.
Mas o metrô estava lotado!
Lotado de pessoas que
fingiam não ver o que estava acontecendo. Lotado de pessoas que não se
preocupavam, não se importavam. Lotado de pessoas indiferentes, pessoas
distantes, olhares e pensamentos além daquele metrô.
Chegou à estação. As pessoas
rapidamente começavam a sair. Esvaíam-se junto com a sua dignidade. Saiu da
estação e começou a descer a rua. Mas quanto mais descia, mais parecia menos.
Quanto mais descia não podia esquecer o assedio, a violência. E quanto mais andava, mais regredia enfim.
Suspirou e pensou para si:
Metrô lotado, é sempre
assim...